segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Grupo Sanofi-Aventis negocia aquisição da brasileira Medley

A Medley, líder na fabricação de medicamentos genéricos no país, negocia a venda de seu controle ao laboratório francês Sanofi-Aventis.

A crise de liquidez, com o encarecimento do crédito e a escassez de linhas de financiamento para capital de giro, nos últimos meses, obrigou a família Negrão, dona da Medley, a acelerar a busca de alternativas para o negócio, segurou apurou o Valor com pessoas familiarizadas com a transação.

A expectativa é que o negócio seja anunciado em breve, segundo disseram essas pessoas. Mas a negociação, segundo essas fontes, ainda depende de certas condições, como o acerto quanto ao preço e a separação de alguns ativos problemáticos.

A venda do controle da empresa, com sede em Campinas, no interior de São Paulo, pode superar os R$ 500 milhões, uma cifra inferior ao exigido pelos controladores no passado quando desejavam receber R$ 1 bilhão.

O laboratório brasileiro Aché, que demonstrou interesse recente em aumentar sua posição no segmento de genéricos, chegou a conversar com a Medley, mas perdeu a disputa para o grupo francês. O banco suíço UBS assessora a Medley.

Procurada, a Medley disse que não se pronunciaria sobre o assunto. A assessoria da Sanofi-Aventis no país nega a informação.

Não é a primeira vez que Alexandre Negrão, piloto campeão de stock car, tenta encontrar uma solução para sua empresa. O controle da Medley chegou a ser negociado no passado ao mesmo tempo em que a empresa se estruturava internamente - profissionalização da gestão, auditorias externas e adoção de programas de gestão SAP - para tentar abrir seu capital.

Mas a crise mudou os planos. Jairo Yamamoto, presidente da Medley desde 2001 e um ex-executivo do Banco do Brasil, passou os últimos meses em silêncio tentando reduzir a dependência de recursos de terceiros, de bancos considerados de segunda linha, que vinham alavancando as vendas do laboratório.

A desvalorização do real também encareceu a compra de princípios ativos, a matéria-prima dos genéricos que é importada principalmente da China a Índia. Como se tratam de produtos de alta concorrência, o aumento nos custos acabam por reduzir as margens de lucro.

Para a Sanofi-Aventis, a compra pode recolocar a empresa à liderança do mercado farmacêutico brasileiro em vendas ao varejo, posição perdida no ano passado para o EMS, outro laboratório brasileiro, forte em genéricos.

A Sanofi, maior farmacêutica europeia, que procura incessantemente substitutos aos seus medicamentos que perderão patente e ao fracasso do Acomplia, a droga contra obesidade, retirada do mercado mundial, em razão de seus efeitos colaterais, assumiria um terço do mercado de genéricos, o de maior crescimento no Brasil.

Na semana passada, o principal executivo da Sanofi, Chris Viehbacher, que veio da GlaxoSmithKline no ano passado para diversificar e expandir as operações do laboratório francês, declarou que a empresa dedicaria esforços para manter uma posição de liderança em mercados emergentes, como o Brasil.

A linha de genéricos da Sanofi, com a marca Winthrop, tem menos de 20 produtos no Brasil e deve ser engordada com duas centenas de medicamentos da Medley, além dos canais de distribuição no varejo. Os genéricos funcionam iguais aos medicamentos de referência, porém não possuem proteção de patente e, portanto, costumam custar mais baratos.

Se a compra for concretiza, Viehbacher deverá deixar o negócio de genéricos independente às decisões da matriz, mas fazendo alguns ajustes na gestão da empresa. Fatalmente, dizem fontes do setor, a política de vendas da Medley, sustentada por prazos longos junto aos distribuidores, será modificada, o que poderá reduzir os descontos dos genéricos nas farmácias.

Com a Medley, que fatura cerca de R$ 800 milhões, as receitas da Sanofi, cujas vendas somaram R$ 1,6 bilhão em 2008, chegariam a R$ 2,3 bilhões no Brasil, acima até do resultado obtido pela subsidiária brasileira da Pfizer com a recente compra da Wyeth.

A Medley, marca adotada em 1996, em substituição ao polêmico Instituto Químico de Campinas (IQC), começou a produzir genéricos em 2000, com apoio da política oficial do governo federal. Em poucos anos, deixou as 40ª posição do ranking para figurar entre os maiores laboratórios do país. Em dezembro, ficou na terceira posição entre todos os laboratórios, atrás do EMS e da Sanofi.

O laboratório também patrocina atletas, alguns em modalidades esportivas praticadas por deficientes físicos (basquete sob rodas, tênis para cadeirantes). Mas os maiores gastos são realizados no automobilismo, principalmente nas atividades da família Negrão, que nunca deixou de ostentar sua paixão por carros.

Fonte: Valor Online